A teoria da geração espontânea perdeu credibilidade com os experimentos de Redi, mas voltou a ser utilizada para explicar a origem dos seres microscópicos, ou microrganismos, descobertos em meados do século XVII pelo holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723).
Essa teoria parecia realmente adequada para explicar a origem dos microrganismos, pois era difícil imaginar que seres aparentemente tão simples, presentes em quase todos os lugares, pudessem surgir por meio da reprodução. Muitos estudiosos, porém, estavam convencidos de que a geração espontânea não ocorria nem para seres grandes nem para seres microscópicos.
Em 1745, o inglês John Needham (1713-1781) realizou o seguinte experimento: distribuiu caldo nutritivo em diversos frascos, que foram fervidos por 30 minutos e imediatamente fechados com rolhas de cortiça. Depois de alguns dias, os caldos estavam repletos de seres microscópicos. Assumindo que a fervura eliminara todos os seres eventualmente existentes no caldo original e que nenhum ser vivo poderia ter penetrado através das rolhas, Needham argumentou que só havia uma explicação para a presença de microrganismos nos frascos: eles haviam surgido por geração espontânea.
O padre e pesquisador italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) refez os experimentos de Needham. Ele preparou oito frascos com caldos nutritivos previamente fervidos: quatro deles foram fechados com rolhas de cortiça, como fizera Needham, e os outros quatro tiveram os gargalos derretidos no fogo, de forma a adquirirem uma vedação hermética. Além disso, os frascos foram fervidos durante longo tempo. Após alguns dias, microrganismos haviam surgido nos frascos arrolhados com cortiça, mas não nos frascos cujos gargalos tinham sido hermeticamente fechados no fogo. Spallanzani concluiu que a vedação ou o tempo curto de fervura utilizados por Needham, ou ambos, haviam sido incapazes de impedir a contaminação do caldo.
Em resposta a Spallanzani, Needham alegou que, devido à fervura prolongada, o caldo poderia ter perdido sua “força vital”, um princípio imaterial que seria indispensável ao surgimento de vida. Spallanzani, então, quebrou os gargalos fundidos de alguns frascos, que ainda se mantinham livres de microrganismos, expondo seu conteúdo ao ar. Em pouco tempo, eles ficaram repletos de microrganismos, mostrando que a fervura prolongada não havia destruído a “força vital” do caldo. Needham contra-argumentou mais uma vez, sugerindo a hipótese de que o princípio ativo, embora deteriorado pelo longo tempo de fervura, se restabelecera com a entrada de ar fresco, permitindo que os microrganismos surgissem espontaneamente. Dessa vez, Spallanzani não conseguiu elaborar um experimento para descartar o contra-argumento de Needham, e a controvérsia não foi resolvida.
Fonte: Biologia Hoje.
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